Normalmente, quando não conhecemos determinado autor ou diretor, recorremos à comparação como forma de exemplificar seu trabalho. Talvez eu mesmo faça isso em algum momento aqui. Mas quero deixar claro desde o início: por mais que surjam tentativas de referenciação, Rodrigo Aragão é, em muitos aspectos, incomparável.
De início, confesso que pensei estar diante de algo na linha de A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise) — especialmente pela ambientação em um prédio antigo, isolado e carregado de tensão, onde toda a ação acontece. A referência parece óbvia, mas logo se dissolve diante das camadas particulares de Prédio Vazio. Sua narrativa, seus fantasmas e o tom específico que Rodrigo imprime à obra afastam qualquer tentativa fácil de comparação. Talvez essa seja, no fim, a única aproximação possível — porque qualquer outra tentativa seria injusta ou imprecisa.
Acredito que o horror é um gênero colaborativo. Cada nova peça que surge entra em um somatório de referências que alimentam obras futuras. Ainda assim, Rodrigo Aragão tem algo único — algo que faz a gente assistir a um filme seu e pensar: “isso é muito Rodrigo Aragão”.
Sou um grande conhecedor da sua obra? Não exatamente. Este é apenas o segundo longa do diretor que assisto — e ele já tem sete no currículo. O primeiro foi O Cemitério das Almas Perdidas, onde percebi duas marcas que se repetem em Prédio Vazio: o amor inegociável pelo gênero e o apreço visível pelos efeitos práticos.
Outro traço que admiro é a sinceridade do diretor em reconhecer o tipo de cinema que está fazendo. Prédio Vazio não tenta ser um horror psicológico ou metafórico, cheio de entrelinhas e camadas filosóficas. É um filme de terror puro, feito para entreter, divertir e causar repulsa — e isso é dito com o máximo respeito. Ao abraçar essa proposta sem vergonha, Aragão se liberta da pressão de criar significados ocultos e entrega uma experiência que é, ao mesmo tempo, engraçada, assustadora e divertida. E isso, sinceramente, é lindo.
Na trama, conhecemos o Edifício Magdalena, um prédio decadente em Guarapari que funciona como hospedagem temporária para turistas durante o Carnaval. Fora dessa época, o prédio permanece vazio. A história se passa justamente no fim do feriado, quando uma jovem e seu namorado vão até o local procurar sua mãe, que desapareceu misteriosamente após passar o Carnaval lá com o namorado. E é só o que posso dizer sobre a trama — qualquer detalhe a mais tiraria parte da surpresa.
O grande destaque do elenco é nossa Rainha do Terror Nacional, Gilda Nomacce. Como sempre, ela entrega uma personagem vibrante, que brilha em cena — especialmente na segunda metade do filme. Sua presença é magnética, e sua performance não deve nada a nenhuma outra grande figura do horror.
Vale ainda uma menção honrosa ao ator Caio Macedo, que assume com competência o papel de alívio cômico. Ele equilibra bem o humor com momentos dramáticos e de tensão, ajudando a manter o ritmo do filme.
É claro que o filme não é isento de falhas. Algumas escolhas de roteiro podem soar questionáveis e, em certos momentos, o ritmo ou as soluções narrativas podem causar estranhamento. Mas Prédio Vazio cumpre exatamente o que promete: não tenta ser o grande filme de terror do ano, mas deixa sua marca em quem assiste — especialmente em quem ainda não conhece o trabalho de Rodrigo Aragão. E, nesse sentido, desperta uma vontade legítima de explorar mais do que ele já fez — o que, no fim das contas, é um dos maiores méritos que um filme pode alcançar.
Título: Prédio Vazio
Direção: Rodrigo Aragão
Ano: 2024
País: Brasil
Elenco: Gilda Nomacce, Caio Macedo, Mariana Cortines, Diego Garcias, Ricardo Meirelles, entre outros.
Nota: 3,5 / 5
